O Fanzine e a história do Festival

Cartazes Anos Anteriores

Tudo começou em um fanzine. Na segunda metade da década de 90, os roqueiros da cidade decidem se unir para editar o Sindicato do Rock. Um coletivo de editores querendo falar daquilo que mais gostavam: música. Mas não só. A gente queria também falar dos nossos sentimentos, das nossas frustrações, do preconceito que havia em uma pequena cidade com aqueles meninos e meninas de camisetas pretas e cabelos cumpridos. E nós, em nossa inocência, acreditávamos que a cidade iria mesmo nos dar atenção.

 

Fizemos as cópias xerocadas e entregamos na praça matriz, onde os jovens se reuniam nos finais de semana. Em pouco tempo lá estavam cópias e mais cópias amassadas pelas ruas. A raiva era tanta. Mas, dos tantos fanzines impressos, alguns foram levados para casa pelos leitores e esses replicaram nossas propostas. O movimento cresceu. Foi aí que deu início a cena independente autoral de Serrana. Passamos a produzir encontros de bandas e logo a convidar artistas de outras cidades e estados. O fanzine era nosso canal de comunicação underground. E a cada 100 cópias enviadas pelo correio para todo o mundo, recebíamos uma avalanche de outros zines. Aumentando mais e mais os contatos.

 

Demos-tapes, fanzines e diversão garantida em encontros de bandas de punk rock, metal, rap, e indie. Mas Serrana, é muito longe da capital. O independente que pulsava nos centros, chegava distante de nós. Aqui no nordeste paulista, Ribeirão Preto e região, havia diversas bandas bacanas e isoladas. Num tempo que não havia internet popular. Foi então que pensamos: temos que fazer algo próprio por aqui que caracterize o que somos. Assim nasceu o Caipiro Rock. Uma festa junina do rock independente. A caipiro diversidade punk.

 

Muitos anos passaram. Em 2001, vira festival e o Cólera fecha a noite. Em 2003, passa a ser realizado em dois dias com uma porrada de bandas legais. O Sindicato do Rock, virou CECAC. E a ocupação transformou o Caipiro Rock, em um evento ainda mais antropológico e um recorte específico da juventude local. A internet já era realidade e o fluxo de comunicação com o mundo só cresceu. Os fanzines seguiam sendo editados e impressos em xerox sem perder a essência. Mas com as redes sociais o festival se torna conhecido e acolhido por bandas independentes, selos e produtores de outras regiões.

 

Fomos para a rua e com a participação de Dead Fish, Cólera, Macaco Bong, Charme Chulo, Nevilton, Flicts, Ludovic entre infinitas outras bandas incríveis, o evento ganha a adesão da cidade e região. Desde 2010, o Caipiro Rock é realizado de graça nas ruas. Praça e avenida. Hoje, adolescentes de outra geração perguntam: “Quando será o Caipiro Rock?” Moleques de cabelos cumpridos, meninas de cabelos raspados e coloridos, skatist@s, zineir@s, boleir@s, basqueteir@s e rappers e funkeir@s. Roqueiros tradicionais e a nova geração conectada em um mosaico criativo de arte e expressão. Nos dois dias de celebração da música autoral Serrana e região dá uma parada e vem prestigiar o “faça você mesmo” na avenida. Igualzinho no começo de tudo. Quando aqueles moleques e molecas decidiram conversar com a cidade por meio de um papel xerocado. Hoje, essa mesma cidade que amassou e pisou nos nossos fanzines quando éramos adolescentes, ouve nosso grito e se diverte conosco.

 

Ricardo Brasileiro – Produtor e criador do Festival Caipiro Rock, e editor do fanzine Sindicato do Rock.

 

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